Você permitiria que seu inseparável smartphone enviasse para um sistema na nuvem registros detalhados de suas andanças diárias, com todos os detalhes de cada ponto de parada associados a data e hora? E, pior: deixaria cruzar essas informações com os dados dos sensores do celular, incluindo coordenada geográfica e altitude (GPS), movimentos e acelerações (acelerômetro), temperatura, bússola, iluminação/brilho, proximidade, Wi-Fi e Bluetooth? Não, né? E se esse sistema permitir, por exemplo, que você escape de engarrafamentos, organize uma viagem ou não esqueça da dose diária de exercícios?
Pois bem, já existe um aplicativo assim, e desde março muita gente mergulhou espontaneamente nessa onda, que usa o conceito de “busca ambiental”, considerado por alguns especialistas como a nova “virada’“da rede. O sistema é o Placeme (“posicione-me”, em inglês), criação da startup californiana Alohar Mobile, disponível para iOS e Android 3+.
A abordagem da Alohar se baseia na análise de comportamentos móveis, usando uma tecnologia com o pomposo nome de “sensoriamento persistente de ambientes”. O conceito foi apresentado em 8 de março na Califórnia, no evento LAUNCH Festival 2012, que premia “tech startups”.
— Com os aplicativos móveis de e-mail, navegador, games, música e vídeo, nossos smartphones acabaram se transformando em pequenos PCs. Mas os apps móveis manuais não têm inteligência proativa, não podem ajudar o usuário sem que ele “pergunte” coisas ao aparelho, e acabam causando fadiga, porque temos que fazer check-in em cada local que visitamos — diz Sam Song Liang, PhD por Stanford e cofundador da Alohar. — Não há um entendimento do comportamento do usuário e a identificação dos nomes dos locais que ele visita é fraca, visto que o GPS é, às vezes, inexato.
Suporte a pacientes com mal de Alzheimer
Com o Placeme, porém, não é necessário fazer check-in num local para registrar uma presença ou uma visita. Diferentemente do Facebook e do Foursquare, tudo se dá sem qualquer interferência do usuário. Ativistas pró-privacidade classificam o sistema como assustador e execrável. Usuários mais cuidadosos juram que jamais baixarão algo com essa nova tecnologia. Outros, no entanto, veem com bons olhos a novidade e se propõem a fazer vista grossa para as questões de privacidade que afloram a partir do conceito.
Na história da internet para as massas, a primeira onda foi dominada pelo Google, com seu buscador superpoderoso, e a segunda está sendo marcada pelo Facebook, expoente máximo das redes sociais. Todos apontam que a terceira onda será focada nos dispositivos móveis, ponto de convergência das tecnologias computacionais e de telecomunicações. Tanto é que Google, Facebook, Microsoft e outras empresas de tecnologia que pretendam sobreviver nos próximos anos estão dando duro para se firmar no nicho da mobilidade.
Analistas são unânimes ao afirmar que a próxima tendência a explodir na rede será intimamente ligada a aparelhos móveis. Mas terá que ser uma invenção que rompa drasticamente com o status quo. Segundo esses critérios, o conceito subjacente ao Placeme é um prenúncio do que virá.
— Os dados gerados pelo Placeme permitem que o usuário faça buscas em sua própria história de vida, extraindo de seus dados históricos correlações que podem tornar seu dia a dia melhor de várias maneiras — diz Liang, que trabalhou por quase quatro anos na Google na área de mapeamento. — O app passa a conhecer a rotina do usuário, por quais ruas ele dirige, locais onde ele costuma comer e lojas onde ele compra serviços e bens.
Liang prevê que “a busca ambiental se tornará algo corriqueiro”. A Alohar aposta que, diante dos benefícios que poderá obter, o usuário não hesitará em entregar dados de seu paradeiro aos servidores da empresa na nuvem. Para isso, garante que as informações dos usuários continuarão sigilosas.
— O app pode fazer uma busca geográfica uma ou duas horas antes de você sair do trabalho, investigando sua rota costumeira, avisando sobre engarrafamentos e rotas alternativas. Pode prever quando seu carro vai precisar de gasolina, dando até dica de postos em sua rota com preço baixo de combustível — explica Liang.
As aplicações são “virtualmente infinitas”, diz o criador da tecnologia, e incluem detecção de acidentes, lembretes para o usuário se exercitar, suporte a pacientes de Alzheimer, gerenciamento de viagens corporativas e propaganda dirigida.
Liang prevê que as pessoas se sentirão nuas num futuro próximo, caso o aplicativo desligue ou se houver algum defeito no smartphone. Ele acredita que, em menos de cinco anos, as pessoas já terão parado de questionar insistentemente esses aspectos de privacidade e se concentrarão nos benefícios que um sistema tão abrangente poderá levar às suas vidas e à sua rotina diária.
— Estamos conscientes do risco de estar à frente do nosso tempo. Mas queremos ser os exploradores e os pioneiros nesse tipo de sistema. Se fizermos fortuna com isso, ótimo. Se falharmos, já teremos sentido o gosto da realização.
Via O Globo
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