Soul Geek

5 de jun. de 2012

Aplicativo polêmico que sabe tudo sobre o usuário promete benefícios

Você permitiria que seu inseparável smartphone enviasse para um sistema na nuvem registros detalhados de suas andanças diárias, com todos os detalhes de cada ponto de parada associados a data e hora? E, pior: deixaria cruzar essas informações com os dados dos sensores do celular, incluindo coordenada geográfica e altitude (GPS), movimentos e acelerações (acelerômetro), temperatura, bússola, iluminação/brilho, proximidade, Wi-Fi e Bluetooth? Não, né? E se esse sistema permitir, por exemplo, que você escape de engarrafamentos, organize uma viagem ou não esqueça da dose diária de exercícios?

Pois bem, já existe um aplicativo assim, e desde março muita gente mergulhou espontaneamente nessa onda, que usa o conceito de “busca ambiental”, considerado por alguns especialistas como a nova “virada’“da rede. O sistema é o Placeme (“posicione-me”, em inglês), criação da startup californiana Alohar Mobile, disponível para iOS e Android 3+.
A abordagem da Alohar se baseia na análise de comportamentos móveis, usando uma tecnologia com o pomposo nome de “sensoriamento persistente de ambientes”. O conceito foi apresentado em 8 de março na Califórnia, no evento LAUNCH Festival 2012, que premia “tech startups”.
— Com os aplicativos móveis de e-mail, navegador, games, música e vídeo, nossos smartphones acabaram se transformando em pequenos PCs. Mas os apps móveis manuais não têm inteligência proativa, não podem ajudar o usuário sem que ele “pergunte” coisas ao aparelho, e acabam causando fadiga, porque temos que fazer check-in em cada local que visitamos — diz Sam Song Liang, PhD por Stanford e cofundador da Alohar. — Não há um entendimento do comportamento do usuário e a identificação dos nomes dos locais que ele visita é fraca, visto que o GPS é, às vezes, inexato.
Suporte a pacientes com mal de Alzheimer
Com o Placeme, porém, não é necessário fazer check-in num local para registrar uma presença ou uma visita. Diferentemente do Facebook e do Foursquare, tudo se dá sem qualquer interferência do usuário. Ativistas pró-privacidade classificam o sistema como assustador e execrável. Usuários mais cuidadosos juram que jamais baixarão algo com essa nova tecnologia. Outros, no entanto, veem com bons olhos a novidade e se propõem a fazer vista grossa para as questões de privacidade que afloram a partir do conceito.
Na história da internet para as massas, a primeira onda foi dominada pelo Google, com seu buscador superpoderoso, e a segunda está sendo marcada pelo Facebook, expoente máximo das redes sociais. Todos apontam que a terceira onda será focada nos dispositivos móveis, ponto de convergência das tecnologias computacionais e de telecomunicações. Tanto é que Google, Facebook, Microsoft e outras empresas de tecnologia que pretendam sobreviver nos próximos anos estão dando duro para se firmar no nicho da mobilidade.
Analistas são unânimes ao afirmar que a próxima tendência a explodir na rede será intimamente ligada a aparelhos móveis. Mas terá que ser uma invenção que rompa drasticamente com o status quo. Segundo esses critérios, o conceito subjacente ao Placeme é um prenúncio do que virá.
— Os dados gerados pelo Placeme permitem que o usuário faça buscas em sua própria história de vida, extraindo de seus dados históricos correlações que podem tornar seu dia a dia melhor de várias maneiras — diz Liang, que trabalhou por quase quatro anos na Google na área de mapeamento. — O app passa a conhecer a rotina do usuário, por quais ruas ele dirige, locais onde ele costuma comer e lojas onde ele compra serviços e bens.
Liang prevê que “a busca ambiental se tornará algo corriqueiro”. A Alohar aposta que, diante dos benefícios que poderá obter, o usuário não hesitará em entregar dados de seu paradeiro aos servidores da empresa na nuvem. Para isso, garante que as informações dos usuários continuarão sigilosas.
— O app pode fazer uma busca geográfica uma ou duas horas antes de você sair do trabalho, investigando sua rota costumeira, avisando sobre engarrafamentos e rotas alternativas. Pode prever quando seu carro vai precisar de gasolina, dando até dica de postos em sua rota com preço baixo de combustível — explica Liang.
As aplicações são “virtualmente infinitas”, diz o criador da tecnologia, e incluem detecção de acidentes, lembretes para o usuário se exercitar, suporte a pacientes de Alzheimer, gerenciamento de viagens corporativas e propaganda dirigida.
Liang prevê que as pessoas se sentirão nuas num futuro próximo, caso o aplicativo desligue ou se houver algum defeito no smartphone. Ele acredita que, em menos de cinco anos, as pessoas já terão parado de questionar insistentemente esses aspectos de privacidade e se concentrarão nos benefícios que um sistema tão abrangente poderá levar às suas vidas e à sua rotina diária.
— Estamos conscientes do risco de estar à frente do nosso tempo. Mas queremos ser os exploradores e os pioneiros nesse tipo de sistema. Se fizermos fortuna com isso, ótimo. Se falharmos, já teremos sentido o gosto da realização.

Via O Globo

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